segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Relacionamentos - Arnaldo Jabor

"Amar, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido." 
Vinícius de Moraes






Relacionamentos


"Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. 

Detesto quando escuto aquela conversa:
- Ah, terminei o namoro...
- Nossa, estavam juntos há tanto tempo...
- Cinco anos.... que pena... acabou...
- É... não deu certo...

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou. E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.

Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam. 
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos essa coisa completa.

Às vezes ela é fiel, mas é devagar na cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é muito bonita, mas não é sensível.
Tudo junto, não vamos encontrar.

Perceba qual o aspecto mais importante para você e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.

E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante... e se o beijo bate... se joga... se não bate... mais um Martini, por favor... e vá dar uma volta.

Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer.

Não brigue, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvidas, problema dela, cabe a você esperar... ou não. 

Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto.

Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de drama. 
Que graça tem alguém do seu lado sob pressão?

O legal é alguém que está com você, só por você. E vice-versa. Não fique com alguém por pena. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós.

Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.

Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?

Gostar dói. Muitas vezes você vai sentir raiva, ciúmes, ódio, frustração... Faz parte. Você convive com outro ser, um outro mundo, um outro universo.

E nem sempre as coisas são como você gostaria que fosse... A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.

Se alguém vier com este papo, corra, afinal você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.

Na vida e no amor, não temos garantias. 
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear. 
E nem todo sexo bom é para descartar... ou se apaixonar... ou se culpar...

Enfim...quem disse que ser adulto é fácil ????"


Arnaldo Jabor

Um dia no Paraguai...

 - Meia, patrão, meia?
...
- Vai comprar, vai comprar?
...
            Essas são duas das principais falas dos paraguaios assim que você desce do carro e pisa, de fato, em solo estrangeiro. Um presságio ao capitalismo que nos espera. Assim que você estaciona seu automóvel, um rapazinho de não mais de doze anos, na maioria das vezes, pede para cuidar do carro em troca de, na volta, você comprar alguns pares de meia dele. Quanta segurança! Mas fazer o quê?
            Depois de esperar por mais ou menos duas horas na fila para poder entrar no país, você respira e pensa “o que que eu estou fazendo nesse fim de mundo?”. O calor é tanto que, reza a lenda, quando um mal-habitante morre e, claro está, vai para o inferno, ele se previne e leva um cobertor. Só para esclarecer: indo por Guaíra e em pleno verão de dezembro. Parece que só de chegar perto da divisa com o Mato Grosso do Sul o suor já começa a escorrer diferente, mais rápido e incômodo.
            Quanto à paisagem, o que mais me chamou a atenção foram as motos. São motos normais, mas quem as dirigia eram niños com a mesma idade daqueles que estavam cuidando dos carros. Capacete pra quê? Não havia! Eles passavam entre os carros, entre as pessoas que atravessavam as ruas entre os carros, eles passavam rápido e imprudentemente. Paraguai, país de todos e de ninguém.
            Você olha para os lados e vê uma discrepância muito grande entre cultura inata e cultura imposta, se é que assim podemos denominar. Na realidade, ou na ilusão, tudo depende do ponto de vista, o que você vê são apenas marcas. Marcas entre o pó e o calor. As pessoas são as marcas que elas compram. “Hola, cómo estás, señor Nike? Y usted señora Sony?”. As pessoas correm de um lado para outro, parecem que estão preocupadas, pensando em produtos, nas marcas, nas pessoas, nas marcas...
            Uma coisa muito legal também são as fachadas das lojas. Numa loja de pneus, a imagem era, do meio pra esquerda, obviamente, pneus, e do meio pra direita, uma mulher deitada e de biquini. Uma ótima estratégia de marketing, não?! Mas hoje em dia mulheres também compram acessórios para seus carros. Numa outra loja, a fachada trazia a foto de um niño, provavelmente o filho do dono. Não consegui ver ligação com os produtos que se vendia ali. Enfim, tudo muito criativo, mas kitsch.
            - Óculos! Não vai comprar? Não vai?!
Será que eles acham que vamos comprar tudo? Parece que querem descontar em nós todo o processo de globalização/colonização e capitalismo que sofreram. Alguém precisa dar um curso de técnica em vendas para esses chicos! Isso na rua, mas dentro dos shoppings a coisa é diferente. Há vendedoras, muitas brasileiras, e essas sempre muito simpáticas e sorridentes, conquistando o cliente mais pela aparência do que pelo produto. Pois é, eles importam não somente produtos baratos, mas mão-de-obra também.
Então você fica com fome e vai até a praça de alimentação do shopping China. Nome mais apropriado não há. Por um segundo você pensa: “agora vou comer alguma coisa típica daqui”. Coisa de quem está acostumado a visitar lugares culturalmente assentados. Então você pensa de novo: “mas qual a comida característica daqui? Tacos? Burritos? Nachos?”. Aí eu percebo o quão sou ignorante. Não sei o que eles comem. Olho para os lados, comida chinesa, comida italiana...  e comida mundial! Sim, o Burguer King!  O rei está ali, todo soberado, com seus súditos em fila indiana aguardando para reverenciá-lo. No fim da veneração, é você quem ganha a coroa.
Não teve jeito, pedi o trio: fritas, coca-cola e um lanche cujo nome em inglês não me lembro mais. Comi de pé porque havia tanta gente que não sobraram cadeiras. Olho para o lado e foco em um rapazinho com a coroa de papel do King na cabeça, todo sorridente, como se realmente fosse o dono do mundo. Mal sabe ele...
Não via a hora de ir embora. Três horas naquele lugar já estava insuportável. Falta de costume, talvez. As pessoas adoram comprar, o Paraguai, então, torna-se o paraíso.
Percebi , afinal, que isso não era uma viagem de turismo. É coisa de fronteira. No fundo achei que fosse encontrar alguma bela imagem de recordação, um souvenirO que, sem dúvidas, encontraria se adentrasse mais o país. Havia me esquecido que fui seduzido e levado até lá pelo capitalismo e lá mesmo engolido por ele. Por sua máscara de si mesmo. Valeu a experiência e a curtição com os amigos... ah, valeu também as amarulas que eu trouxe, estavam super em conta. Será que um dia alguém vai escrever um outro “Um dia no Paraguai...” e mencionar um “Señor Amarula”? Nada mais natural.

Marco Hruschka
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sem-te





No auge da vida, descubro-me inválido...
De uma invalidez ébria e devassa
E sedenta, desprezível porque não posso controlar.
Aqui no peito, apenas o vazio da tua ausência,
Na mente, um turbilhão de imagens desconexas,
No nada, eis-me ali, sangrando amor
Porque já não cabe dentro, porque não há mais alento.
Sou teu escravo, teu criado, teu vassalo,
De mim pra ti devoção, submissão, louvor e canção,
Agora o céu está pesado, escuro, pesadelo em si
A dor já chove, ardência sem chamas em cinzas!
Se eu pudesse não mais sentir... o impalpável,
A tua ausência, sim, a tua ausência!
É o não-estar que me aflige,
O querer-te aqui, o abraçar-te enfim e infinitamente...
Sou a mágoa e a chaga que se alimenta da tua saudade,
Tudo o que escreve é sofrimento, pena banhada na tinta do unguento,
No caixão dos tolos apaixonados espero-te, meu bem,
Mesmo sabendo que não-você é o meu fado
Intransponivelmente eterno daqui para o além...

Marco Hruschka
sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A tonalidade do Uníssono em Os melhores contos de 2010, pela CBJE

" Panorama Literário Brasileiro - Edição 2010
Os melhores Contos de 2010

Mais do que um livro, o Panorama Literário Brasileiro é um documento histórico. Ele registra os melhores contos inscritos para as seletivas da CBJE durante o ano, segundo avaliação do Conselho Editorial da CBJE/RJ, e também - o que é próprio da CBJE - segundo a opinião dos leitores. Este é o segundo ano consecutivo em que será publicado, e temos certeza que reeditará o mesmo sucesso da edição anterior.
Com esta Edição 2010, a CBJE concretiza ainda mais o seu objetivo inicial que é o de fazer fazer do PLB uma fonte definitiva de referência da nossa literatura contemporânea." 
(http://www.camarabrasileira.com/panorama2010contos.htm)

Meu conto "A tonalidade do uníssono", primeiramente publicado na Antologia "Ab absurdo", pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores, foi escolhido para compor também o "Panorama Literário Brasileiro - Edição 2010 - Os melhores contos de 2010", publicados pela editora. 

Republico-o aqui, para que os leitores do blog possam opiniar a respeito.
Muito obrigado a todos.

A tonalidade do Uníssono

O ar está em si bemol. A tendência é que a nota continue a mesma, embora possa semitonar dependendo da brisa. Contudo, os bemóis predominarão por aqui. O que há em um cômodo sem janelas nem portas, além de você? Transpiração e mais o quê? Silêncio e mais o quê? Silêncio em si bemol... preciso de janelas.
Eu queria ser aquele arco-íris que se exibe perto da cachoeira, pois trz esperança pós-tempestade, aquarela de fé... fé em quê? Independe! Mesmo assim seria ótimo sê-lo, desta forma apareceria sempre em horas notáveis e seria admirado como um desejo de um sonho, seria paisagem, também a lenda dos avós aos netos, a própria natureza, sendo assim o próprio Deus de alguns pagãos, como é o nome daquela religião mesmo? São tantas que nem me lembro mais. Ah, ser Deus! Mas... é bom ser Deus? Já tenho problemas demais como humano, Deus deve ser o problema personificado... ou melhor, espiritualizado. Não, não quero sê-lo!
Hoje o ar está amargo. Caretas de desprezo. Por quê? Não há resposta para tudo, pois se a vida é uma constante interrogação, ou não? Há quem diga que ela é a resposta de si mesma. Prefiro acreditar que a vida apenas é.
........................................................................................................................................................................................................ o seu olhar cheira a vinho, embebedar-me-ia? Provavelmente já esteja fora de mim. Pois estou em quem? Quem está em mim? Por favor, mais uma dose do olhar daquela dama! Como é excitante! Um olhar é o ato mais íntimo de um ser humano. Donna, olhe-me a mim, amém!
No alto de um precipício é o melhor lugar para se refletir sobre a vida como um todo. Eis-me aqui, no Portão do Cárcere, porque é assim que se chama esse lugar agora, meio inclinado a estibordo, tendo a proa como uma guilhotina a minha frente, à esquerda um campo magnificamente verde, à direita... o futuro. Não, cansei-me dessa posição, um passo para a direita e vejo tudo! Que vontade insanamente prazerosa de saltar, estico a mão e sinto o vento acre a balançar-me para frente e para trás, para frente e para trás... queria alcançar aquela nuvem, ela parece tão macia, abraçá-la-ia contra o peito até que ela se desmanchasse em pó, ou em fumaça, ou em cheiro de céu, quem sabe? Eu tenho opção, a guilhotina é mais rápida, mas eu ainda posso voar se quiser...
Ultimamente, a madrugada me faz carícias amorosas, deita-se comigo. Seu cheiro é místico e intenso, agrada-me senti-lo. O toque é fresco e firme, faz-me companhia enquanto fecho os olhos, ela assobia uma nota que não se encontra na escala musical de nossos antepassados, trata-se de algo lírico e novo, o som é tenor, e não importa o sexo, o deleite dos acordes é assexuado. A única pena é a sua partida à chegada crepuscular, tão cedo!
O defeito do ser humano é pensar demais. Hoje eu tive vontade de tocar uma pessoa, beijar essa pessoa, transformar-me nela por um segundo. E assim foi. Fundimo-nos em carne e em pensamentos. Costumam dizer que isso que fiz é traição, mas eu não vejo dessa forma. A doação de energias é válida quando recíproca. As forças astrais, teosoficamente falando, emanavam de nós e se redistribuíam ao redor de nossas auras, infiltravam-se pelas nossas peles e enrijeciam nossos músculos, relaxavam nossas almas... desta vez a noite foi apenas uma voyeuse. Qual a diferença da natureza e do ser humano? Talvez o ser humano pense demais!
Este escrito é incognoscível a mim. Se eu conseguisse me lembrar...
Tic-tac, tic-tac, morte-morte, morte-morte, tic-tac...
Por favor, me leve embora daqui... não agüento mais esse cheiro de espectro, esse som de mar, não suporto mais me ser. Eu sei que você está aí! Por que não aparece logo? Me tira daqui!
A mulher é uma domadora profissional de homens apaixonados, o que há dentro do ser masculino que se deixa ser influenciado tão facilmente pelas fêmeas? O “fogo que arde sem se ver”? Basta uma expressão facial... e pronto! O jogo termina vencido pelas damas. Cavalheiros, não vos rendam aos caprichos da serpente!
 O absurdo resolveu agir por aqui, o tempo todo, estamos imersos nele. Uma lava espessa e colorida, mas são tons sombrios, macabros. Parece noite. Ouço uivos, gritos, ventos esparsos e ciprestes... sinto que o luto está a sobrevoar o povoado. Quanto mais eu corro, mais perto está o que me persegue, o que são essas coisas? De onde elas vêm? Acho que a pergunta correta seria “O que sou eu?”. Ousar-me-ia demandá-la a mim? É como overdose de absinto.
            Despedir-me-ei daqueles que ficam. Vou procurar o frescor, algo como a aragem da geada; procurarei também o eco de minha voz que se perdeu por entre os meandros labirínticos da vida, um som rouco de tanto viajar pelas intempéries da realidade; buscarei o agridoce, mel demais acaba por enjoar-me; ah, já sei o que quero! Que impere o silêncio, arpeje! Voilà! Zéfiros em si bemol...
segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A eternidade de sete luas

Meu coração esteve aprisionado
Por muito tempo em uma caverna
Onde não existia fogo,
Paixão verdadeira não havia e
A esperança estava dizimada.



Quando eu não mais sonhava
Com um amor, que me parecia impossível,
Eis que do céu estrelado desce um anjo alado
E acalenta, com fervor, esse coração desolado.



Do olhar nasceu o encanto,
As vontades, as vidas, as vezes,
E o silêncio das pupilas trêmulas
Incitou o beijo, cálido e quente,
Que me cobriu de delícia em véu e manto.



Entregamo-nos mutuamente ao sentimento
Que perpetuava em nossos corações,
O que queríamos era o presente
Que ali estava, um para o outro,
Sem medo, sem limites, sonhamos juntos



E o sonho de viver era bom,
Amamo-nos pelas eternidades
Dos instantes, sete luas e muitos delírios
Foi o que fomos, e agora no céu
As estrelas choram aleluias morosas
Por um místico desencontro do destino.

A mon bébé...

Marco Hruschka
segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Estratégias de sedução - Fabrício Carpinejar



A mulher tem uma manha terrível, um ardil implacável de sedução. Qualquer macho sucumbe. Qualquer. Pode ser um diplomata, um gari, um doutor pela Sorbonne XXXV, um eletricista. Não foi criado um sistema de proteção; ainda somos presas fáceis.

É quando ela sussurra no ouvido que está sem calcinha. Mesmo que seja uma mentira, funciona. O sujeito engasga, extravia a linha de raciocínio, logo baba, perde a língua em ataque epiléptico. Experimentará um transe messiânico, tonteado com a revelação. Trata-se de um convite? Quem diz que não é maldade?

Toda mulher fala que está sem calcinha rindo, o que irrita sua vítima. O barbado buscará se certificar, espiando os joelhos, reparando nas dobras, com os olhos vidrados de um tarado. Não acreditará no milagre. Cometerá uma gafe, um escorregão, derrubará a cerveja na roupa, tropeçará no cadarço, praticará algo idiota como encará-la para avisar que irá ao banheiro. E voltará do banheiro duas vezes idiota porque ela sequer se levantou da cadeira.

É uma confidência imbatível que somente as mulheres têm direito. Se o homem declara que está sem cueca vai sugerir – no máximo – que é um porco. Não será nem um pouco excitante.

Mas, após décadas de experimento, desvendei uma estratégia masculina de efeito semelhante. Não faço churrasco, nunca convidei amigos para uma carne no final de semana. Meu pai se separou cedo da mãe e não me transmitiu o legado e a arte do sal grosso. Azar, não há churrasqueira que não sirva de lareira.

O que não abro mão é de comprar o saco de carvão no mercado. Nenhuma fêmea resiste a um homem carregando um saco de carvão. Com os dedos sujos de graxa. Apanhando a argola de papel com desleixo. Como se não fosse pesado.

Num único lance promocional, é oferecer as fantasias eróticas de mecânico e de peão. É mais imbatível do que escolher carne no açougue. Mais imbatível do que recusar a carne no açougue (a maior parte dos clientes discorda do açougueiro para se exibir ao mulherio).

Atravessar os corredores de laticínios e refrigerantes com um saco de carvão representa a suprema glória viril. Supera o óleo nos bíceps dos halterofilistas. É reconquistar o fogo. É se fardar completamente ao sexo.

Não precisa ser musculoso, apenas desalinhado. A cena depende de preciosos detalhes. Suje a calça na hora de pagar e não dê bola para mancha, provando que estaria disposto a rolar num barranco. Largue o pacote na esteira com um estrondo, para impor passionalidade. E pague com um maço bêbado de notas, retirado do bolso da frente. Não tire a carteira sob hipótese nenhuma, que seria uma atitude educada e fria.

Todo domingo, repito esse ato sagrado. Tenho um estoque de sacos no porão. É meu jeito de estar sem calcinha.
terça-feira, 17 de agosto de 2010

Filme: O leitor

Ontem, reassisti "O Leitor", filme baseado na obra literária homônima do escritor alemão Bernhard Schlink. Kate Winslet ganhou o Oscar por melhor atriz e o filme conta também com a participação do ator Ralph Fiennes. A citação abaixo me chamou muita atenção, fala do garoto apaixonado Michael Berg, pela sua poeticidade...


Não tenho medo.
Não tenho medo de nada...
Quanto mais eu sofro, mais eu amo...
O perigo só fará crescer o meu amor.
Ele o afiará, perdoará o preconceito..
Serei o único anjo que você precisa.
Você deixará a vida ainda mais bonita do que quando entrou.
O céu a levará de volta, olhará para você e dirá:
"Somente uma coisa pode nos completar.
E esta coisa é o amor..."


(O Leitor)
sexta-feira, 13 de agosto de 2010

No boteco com Carpinejar

Ontem, dia 12 de agosto, Fabrício Carpinejar e Marcelino Freire estiveram em Maringá para participar do projeto "Autores & Ideias" do Sesc. Discutiram sobre o universo da literatura nos microblogs. Depois do encontro fomos todos para um barzinho jogar conversa fora e aproveitar da presença desses dois grandes nomes da literatura brasileira contemporânea. Tive a oportunidade de presentear o Carpinejar com o meu livro de poesias "Tentação" e receber um autógrafo muito bacana no "Canalha!", livro que ganhou o Prêmio Jabuti em 2009. Além de ótimos escritores, são duas figuraças que vale a pena conhecer.

Marco Hruschka
segunda-feira, 2 de agosto de 2010

France, tu me manques!

Posto esta foto e este comentário em homenagem à França, enfatizando a influência que a cultura e a língua tiveram e  têm hoje em minha vida. Estou muito contente com minha profissão. Ser professor de língua francesa é a minha paixão. A foto ao lado foi tirada em Versailles, em 2004, quando tive a oportunidade de conhecer esse país maravilhoso. Estamos no jardim do castelo de Luís XIV, Le Roi Soleil. Como o título da postagem diz, a saudade só aumenta e espero poder voltar a visitar a França novamente. Um abraço aos meus alunos, aos colegas de profissão a e todos aqueles que admiram essa grande nação.

Marco Hruschka
terça-feira, 6 de julho de 2010

Citação - José Saramago

Reflexão...

"Há uma pergunta que me parece dever ser formulada e para a qual não creio que haja resposta: que motivo teria Deus para fazer o universo? Só para que num planeta pequeníssimo de uma galáxia pudesse ter nascido um animal determinado que iria ter um processo evolutivo que chegou a isto?"

José Saramago
segunda-feira, 26 de abril de 2010

Lançamento do livro Tentação



À venda na rede de livrarias Bom Livro em Maringá e Londrina ou diretamente com o autor


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A gueixa dos olhos de mar

Lá fora, só por olhar a paisagem e contemplá-la, ninguém saberia nos dizer qual é a estação na qual nos encontramos. Parece outono, mas os frutos já não dão mais como antes. Primavera seria se tivéssemos os ipês a colorir as ruas. Verão e inverno temo-los num mesmo dia. Amarelo e cinza são as cores que, habitualmente, revezam-se nos sobre-tons que pintam o quadro diurno da cidade. Pela noite, tudo parece breu.
            Estavam, ou melhor, estávamos, pois eu, como narrador onisciente e onipresente, encontro-me sempre num ângulo privilegiado para narrar a história e participar ou influenciar-lhe quando bem entender, pois bem, estávamos num bar. Alguns chamariam de boate, pode ser, depende dos olhos de quem analisa, ou apenas vê, não nos prenderemos a isso. Sabe-se que há um balcão de mármore negro, bebidas de todos os tipos na parede, são prateleiras e fileiras de destilados e fermentados, teor alcoólico para todos os paladares. Deste ângulo, nota-se uma bela garrafa de absinto, de cor verde, além de uma outra de tequila, uma de vodka, vinhos de todos os lugares do mundo, atualmente os japoneses são os mais populares, agora eles têm mais território para plantar e para viver, os do Porto têm aparência atraente, mas ainda prefiro o suave de Bordeaux. Há uns recipientes estranhos que comportam bebidas de cores diferenciadas, que brilham. Do lado de lá do balcão, belas garotas, claro está, neste caso a minha preferência como voga, trabalham a servir a clientela, toda ela do sexo feminino, digo-lhes desde já. Mas todas as raças se misturam, há fêmeas para todos os gostos. Poltronas, sofás e bancos, em sua maioria de couro, acreditamos que por motivos afrodisíacos e não de limpeza... - bom, de limpeza também -, encontram-se espalhados pelos cantos do espaço, formatado geometricamente, lembrando um labirinto de salas. A música que embala a dança é algo irreconhecível aos ouvidos comuns, notas semi-inexistentes aliadas a uma harmonia surreal; trata-se de um som entorpecente, narcótico e inebriante, talvez já tenhamos a explicação para o fato de que todas elas se movimentam como quem sonha estar a nadar, umas como a fugir de uma presa aquática, outras a acasalarem-se num aquário de transparências.
            Não há muitas pessoas. Parece-nos uma festa privada. Há o suficiente para que façam sexo umas com as outras sem enjoarem-se, entretanto, elas já não precisam mais disso se não quiserem, as bebidas e as danças já lhes proporcionam orgasmos múltiplos e ininterruptos. Precisamos de um novo Darwin para registrar a nova evolução da espécie.
            E lá vem ela, saída não se sabe de onde, vestida de um preto quase transparente, roupas sem corte, estilosamente rasgadas, apenas com algumas aberturas estratégicas. Usa uma bota igualmente negra, cano alto, até os joelhos, salto fino, que faz com que ela pareça ainda mais soberana. Seus olhos são mares orientais, cabelos negros e compridos, lisos e inebriantes. Magra em suas curvas e formosura. Anda a passos firmes e leves em direção ao que deseja, observando fixamente o ponto-alvo, como uma leoa que aguarda o momento certo de atacar a sua presa. A mulher que será abordada em alguns instantes não sabe, mas o perfume da Senhora a inebriará e elas se tornarão amantes nesta noite.
            Não há mais homens por aqui. Nem aqui dentro, nem lá fora, em lugar algum. O feminino impera por completo, como outrora dominava sem darmos conta, a única diferença está na exclusividade da presença. Elas têm sêmen de qualidade armazenado em segurança pelo tempo que quiserem manter-se somente mulheres. Se optarem pelo masculino, o que não nos parece provável neste momento, abrirão a caixa de cor branca, com a permissão da Senhora, claro está, pois é ela quem detém o poder por aqui, bem como as senhas e as chaves. Caso contrário, continuarão a se reproduzir com o conteúdo da caixa negra. Devem estar se perguntando o porquê da escolha das cores, sinto muito, eu também não sei.
            Enfim, as duas jovens estão num cômodo especial agora, único, ímpar, o quarto da Senhora. Essa mestiça, uma semi-oriental, de olhos verdes e pele indiana tem o costume de escolher uma parceira quando lhe apetece. Normalmente ela permanece sozinha, organizando e planejando tudo, pois tudo o que se pode ver até a linha do horizonte lhe pertence. A decoração do ambiente é encantadora. Há espelhos em locais inesperados, cores planando suavemente, exalando odores extasiantes. Ouve-se o barulho de água em algum lugar, parece uma mini-cachoeira. Talvez esteja no toilette ao lado. O clima é fresco e aconchegante agora. É deveras um aposento no qual se deseja estar. A moça que já está despida sorri por ter sido a escolhida. Ela realizará o sonho que é também o  de todas as damas que estão lá fora, pois a Senhora é o deleite maioral. Tomam uma bebida especial, saborosa, relaxante, mas que só fará efeito daqui há algumas horas.
            Elas já se amam, usufruem-se reciprocamente, parece que se tocam sem tocar-se. São duas plumas, são duas partes encaixadas de um quebra-cabeça. São o pecado que já não existe mais. São o prazer. São tudo que um corpo pode desejar. São-se e só.
            Ao raiar, a Senhora já estará sozinha. Ninguém lembrará do ocorrido. A escolhida não mais a será e não saberá nunca que a foi, dará vez a outra felizarda, podendo ser ela mesma, se tiver sorte. A Senhora continuará com seus afazeres, bem mais relaxada, obviamente, e esperará os sinais do corpo para realizar mais uma vez esse ritual sacro-profano de delícia e esquecimento.

Marco Hruschka

PS: Foto Le sommeil (O sono), de Gustave Courbet, 1866.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Bem-me-quer-mal-me-quer

           Não estava conseguindo dormir. Tivera sonhos agitados. As imagens eram dispersas e rápidas, flashs ligeiros, embaralhados, várias cenas ao mesmo tempo. Rolara na cama desde a hora em que se deitou, virava de um lado para outro, trocava de travesseiros, trocava de sonhos iguais. Suava. O ventilador estava ligado, mas lá fora estava fresco, era primavera. De fato, há coisas que fazemos somente pelo hábito. Era herança do verão, pois. Chovia. O barulho da chuva o incomodava. Todo ruído que não fosse o de seus pensamentos o incomodava. Com o alvoroço dentro de si ele já se acostumara. A lua já não aparecia nos céus, estava escondida entre nuvens negras e pensamentos longínquos.
            Sentiu o estômago torcido, achou que estava passando mal. Resolveu levantar-se. Meio zonzo, com a cara contrariada, saiu do quarto sem acender nenhuma luz, guiando-se pela experiência adquirida em noites em claro. Foi direto à cozinha, pois era lá que guardava sua caixa de medicamentos. Esbarrou na mesa, não era comum. Então acendeu as luzes. Tomou remédio para dores de cabeça. Em seu inconsciente, achava que eliminaria o turbilhão de imagens desconexas que insistiam em lhe perturbar. Em seguida, sal de frutas. Alívio parcial. Foi até o banheiro. Olhou-se no espelho do armário. Abriu bem os olhos verificando se encontrava alguma anomalia. Em seguida, a boca e a língua. Depois ergueu a cabeça para observar as narinas. Não havia nada de errado com seu rosto, mas sentiu vontade de usar cotonetes nos ouvidos. Achou que poderia tocar seus pensamentos com o objeto. Os cotonetes seriam a ponte entre si e seus segredos, o milagre, a epifania, o mapa do tesouro, a descoberta. Enfiou o mais fundo que pôde. Ambicionava ser-se um só, corpo e mente, para poder controlar-se. No entanto percebeu que não podia, estava além de seu alcance, de seu poder. Conteve-se no limite e outro alívio tomou-lhe a alma, uma sensação de leveza. Entretanto, ele não sabia, mas as imagens continuavam lá.
            Voltou à cozinha, abriu a geladeira e ficou imaginando o que realmente ansiava. Seria fome? Sede? Desejo? Esperança, talvez? Tudo! Misturado e conturbado como também era a sua vida. Ele pensava demais, mesmo quando não queria. Sentia demasiado também, mas isso era por opção. Num reflexo instintivo, apossou-se do litro de leite e sorveu-o todo. Ao fim, sorriu sem perceber, de um sorriso ligeiro e sincero.
            Andou pela casa sem saber o que estava fazendo até que viu a porta de vidro da sala, que dava para a sacada. Vou tomar um ar, pensou. Saiu. A brisa primaveril percorreu-lhe o corpo, arrepiando-o. Sentiu calafrios. O mais provável seria aconselhar-lhe um agasalho mais grosso, não se pode abusar da saúde. Mas não era o caso. Era um sinal. Um pressentimento, talvez.
           A chuva cessara. Olhou para o céu, todo renovado, e agora podia ver a lua, branca e linda. Sentiu uma admiração inexplicável, pois essa cor lhe trazia lembranças. Beberia essa lua, associou. Mas não podia porque já estava cheio, repleto de si mesmo. Ficou ali por alguns minutos, refletindo e aguardando uma estrela cadente, Pediria uma noite de sono, falou em voz baixa. Eles não vieram, nem a estrela e nem o sono. Olhou para baixo e viu uma margarida que acabara de desabrochar em seu minúsculo jardim, ali mesmo na sacada no apartamento. Fez uma cara de déjà-vu. Pétalas alvas e miolo amarelo. Colheu a flor e a cheirou. Em seguida, sem se dar conta, começou a tirar suas pétalas, uma de cada vez: bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer... de repente, ele ouviu um barulho inesperado. Era a sua campainha. Meio assustado, foi até a porta, abriu-a e seu coração descompassado sentiu um alento. Ela usava um vestido longo e branco, o preferido dele.  Os cabelos cacheados e louros brilhavam, mesmo na madrugada. Sorria timidamente e exalava um perfume floral. Viera lhe pedir um abraço reconciliador e devolver-lhe as noites de sono que ele tanto desejava.

Marco Hruschka
terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Os acrobatas - Vinícius de Moraes

Não consigo ficar muito tempo sem a companhia de Fernando Pessoa e Vinícius de Moraes. Então posto aqui um poema que considero um de meus favoritos, Os acrobatas. No vídeo, interpretação de Camila Morgado. Sem mais palavras, sinta a poesia!




Os acrobatas


Subamos!
Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse física dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.

Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesurados
Na calma convulsa da ascensão.

Oh, acima
Mais longe que tudo
Além, mais longe que acima do além!
Como dois acrobatas
Subamos, lentíssimos
Lá onde o infinito
De tão infinito
Nem mais nome tem
Subamos!

Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!

Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.

Como no espasmo.

E quando
Lá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus

Num último impulso
Libertados do espírito
Despojados da carne
Nós nos possuiremos.

E morreremos
Morreremos alto, imensamente
IMENSAMENTE ALTO.

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Maringá, Paraná, Brazil
Marco Hruschka é natural de Ivaiporã-PR, nascido em 26 de agosto de 1986. Morou toda a sua vida no norte do Paraná: passou a infância em Londrina e desde os 13 anos mora em Maringá. Sempre se interessou em escrever redações na época de colégio, mas descobriu que poderia ser escritor apenas com 21 anos. Influenciado por professores na faculdade – cursou Letras na Universidade Estadual de Maringá – começou escrevendo sonetos decassílabos heroicos, depois versos livres, contos, pensamentos e atualmente dedica-se a um novo projeto: contos eróticos. Seu primeiro poema publicado em livro (Antologia de poetas brasileiros contemporâneos – vol. 49) foi em 2008 e se chama “Carma”. De lá para cá já, entre poemas e contos, já publicou mais de 50, não apenas pela CBJE, mas também em outras antologias. Em 2010 publicou seu primeiro livro solo: “Tentação” (poemas – Editora Scortecci). Em 2014, publicou “No que você está pensando?” (Multifoco Editora), livro de pensamentos e reflexões escrito primordialmente no facebook. É professor de língua francesa e pesquisador literário.

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"A cumplicidade é um roçar de pés sob os lençóis da paixão." M.H.

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