quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A Tonalidade do Uníssono


Olá "blogueiros" de plantão! Muito obrigado pela visita. Segue abaixo um texto diferente dos demais, uma nova proposta de trabalho, gostaria de ver mais comentários, elogios ou críticas, uma palavra é bem-vinda! Um grande abraço! ;)
Marco Hruschka
O ar está em si bemol. A tendência é que a nota continue a mesma, embora possa semitonar dependendo da brisa. Contudo, os bemóis predominarão por aqui. O que há em um cômodo sem janelas nem portas, além de você? Transpiração e mais o quê? Silêncio e mais o quê? Silêncio em si bemol... preciso de janelas.
Eu queria ser aquele arco-íris que se exibe perto da cachoeira, pois trz esperança pós-tempestade, aquarela de fé... fé em quê? Independe! Mesmo assim seria ótimo sê-lo, desta forma apareceria sempre em horas notáveis e seria admirado como um desejo de um sonho, seria paisagem, também a lenda dos avós aos netos, a própria natureza, sendo assim o próprio Deus de alguns pagãos, como é o nome daquela religião mesmo? São tantas que nem me lembro mais. Ah, ser Deus! Mas... é bom ser Deus? Já tenho problemas demais como humano, Deus deve ser o problema personificado... ou melhor, espiritualizado. Não, não quero sê-lo!
Hoje o ar está amargo. Caretas de desprezo. Por quê? Não há resposta para tudo, pois se a vida é uma constante interrogação, ou não? Há quem diga que ela é a resposta de si mesma. Prefiro acreditar que a vida apenas é.
........................................................................................................................................................................................................ o seu olhar cheira a vinho, embebedar-me-ia? Provavelmente já esteja fora de mim. Pois estou em quem? Quem está em mim? Por favor, mais uma dose do olhar daquela dama! Como é excitante! Um olhar é o ato mais íntimo de um ser humano. Donna, olhe-me a mim, amém!
No alto de um precipício é o melhor lugar para se refletir sobre a vida como um todo. Eis-me aqui, no Portão do Cárcere, porque é assim que se chama esse lugar agora, meio inclinado a estibordo, tendo a proa como uma guilhotina a minha frente, à esquerda um campo magnificamente verde, à direita... o futuro. Não, cansei-me dessa posição, um passo para a direita e vejo tudo! Que vontade insanamente prazerosa de saltar, estico a mão e sinto o vento acre a balançar-me para frente e para trás, para frente e para trás... queria alcançar aquela nuvem, ela parece tão macia, abraçá-la-ia contra o peito até que ela se desmanchasse em pó, ou em fumaça, ou em cheiro de céu, quem sabe? Eu tenho opção, a guilhotina é mais rápida, mas eu ainda posso voar se quiser...
Ultimamente, a madrugada me faz carícias amorosas, deita-se comigo. Seu cheiro é místico e intenso, agrada-me senti-lo. O toque é fresco e firme, faz-me companhia enquanto fecho os olhos, ela assobia uma nota que não se encontra na escala musical de nossos antepassados, trata-se de algo lírico e novo, o som é tenor, e não importa o sexo, o deleite dos acordes é assexuado. A única pena é a sua partida à chegada crepuscular, tão cedo!
O defeito do ser humano é pensar demais. Hoje eu tive vontade de tocar uma pessoa, beijar essa pessoa, transformar-me nela por um segundo. E assim foi. Fundimo-nos em carne e em pensamentos. Costumam dizer que isso que fiz é traição, mas eu não vejo dessa forma. A doação de energias é válida quando recíproca. As forças astrais, teosoficamente falando, emanavam de nós e se redistribuíam ao redor de nossas auras, infiltravam-se pelas nossas peles e enrijeciam nossos músculos, relaxavam nossas almas... desta vez a noite foi apenas uma voyeuse. Qual a diferença da natureza e do ser humano? Talvez o ser humano pense demais!
Este escrito é incognoscível a mim. Se eu conseguisse me lembrar...
Tic-tac, tic-tac, morte-morte, morte-morte, tic-tac...
Por favor, me leve embora daqui... não agüento mais esse cheiro de espectro, esse som de mar, não suporto mais me ser. Eu sei que você está aí! Por que não aparece logo? Me tira daqui!
A mulher é uma domadora profissional de homens apaixonados, o que há dentro do ser masculino que se deixa ser influenciado tão facilmente pelas fêmeas? O “fogo que arde sem se ver”? Basta uma expressão facial... e pronto! O jogo termina vencido pelas damas. Cavalheiros, não vos rendam aos caprichos da serpente!
 O absurdo resolveu agir por aqui, o tempo todo, estamos imersos nele. Uma lava espessa e colorida, mas são tons sombrios, macabros. Parece noite. Ouço uivos, gritos, ventos esparsos e ciprestes... sinto que o luto está a sobrevoar o povoado. Quanto mais eu corro, mais perto está o que me persegue, o que são essas coisas? De onde elas vêm? Acho que a pergunta correta seria “O que sou eu?”. Ousar-me-ia demandá-la a mim? É como overdose de absinto.
            Despedir-me-ei daqueles que ficam. Vou procurar o frescor, algo como a aragem da geada; procurarei também o eco de minha voz que se perdeu por entre os meandros labirínticos da vida, um som rouco de tanto viajar pelas intempéries da realidade; buscarei o agridoce, mel demais acaba por enjoar-me; ah, já sei o que quero! Que impere o silêncio, arpeje! Voilà! Zéfiros em si bemol...

2 comentários:

Ana Maria disse...

MArco, o absurdo age por aí, por aqui e por todos os lugares nos quais existem pessoas que sentem tão intensamente e com sentimentos sinceros como você.
O menos mal é que vc consegue traduzir os absurdos em palavras, isso o torna mais irritante, porém, mais explicáveis.

Luigi Ricciardi disse...

Je pense que ce récit montre bien le chemin que la pensée peut prendre... ce sont des personnes qui sentent le monde avec une autre peau, qui le regardent avec un autre regarde, et deviennent ses vies dans d'autres vies. A mon avis, c'est ton meilleur récit. Clarissona irait adorer le lire... bien que "sou" mon récit. Les deux se semblent.
Mes félicitations!

Ce n'est pas un français de la fin du monde, mais c'est presque ça! hauaahauahaua

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Maringá, Paraná, Brazil
Marco Hruschka é natural de Ivaiporã-PR, nascido em 26 de agosto de 1986. Morou toda a sua vida no norte do Paraná: passou a infância em Londrina e desde os 13 anos mora em Maringá. Sempre se interessou em escrever redações na época de colégio, mas descobriu que poderia ser escritor apenas com 21 anos. Influenciado por professores na faculdade – cursou Letras na Universidade Estadual de Maringá – começou escrevendo sonetos decassílabos heroicos, depois versos livres, contos, pensamentos e atualmente dedica-se a um novo projeto: contos eróticos. Seu primeiro poema publicado em livro (Antologia de poetas brasileiros contemporâneos – vol. 49) foi em 2008 e se chama “Carma”. De lá para cá já, entre poemas e contos, já publicou mais de 50, não apenas pela CBJE, mas também em outras antologias. Em 2010 publicou seu primeiro livro solo: “Tentação” (poemas – Editora Scortecci). Em 2014, publicou “No que você está pensando?” (Multifoco Editora), livro de pensamentos e reflexões escrito primordialmente no facebook. É professor de língua francesa e pesquisador literário.

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"A vida é um compromisso inadiável" M. H.
"A cumplicidade é um roçar de pés sob os lençóis da paixão." M.H.

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