domingo, 4 de outubro de 2009

Ampulheta-em-gula




Eis o monstro que vem de lá pra cá todo faminto, cheio de si mesmo
Cheio de nós, invisível, irredutível, infalível, repleto de rápida ira
Ponteiros alegóricos, números carnívoros, dum silêncio mortal
O tempo transfigura-se o tempo todo,  e o futuro já é agora
E agora?  O agora esvai-se! O contrário do eco que resta
Enquanto estás, és engolido sutilmente, não há chaga
Aparente, mas os sinais são inegáveis, o espelho é
Fiel e não mente: és tu, devorado, não mais flor
Desabrochada, mas o acúmulo experimentado
E agora inutilizado, disfarce de ser humano
Cobaia intrínseca e desavisada, pois saiba
Que o fim se aproxima e de si não passa
A morte, estação derradeira; não há
Nada depois dela e da madeira, eis
A morada dos mortais, criaturas
Já moribundas no nascimento
Dizem que Deus é o tempo
Tirano do falso - arbítrio
A areia escorre ligeira
O sino toca alto e só
Já não posso mais
O que temos?
Segundos
Nada

.


Marco Hruschka

3 comentários:

Unknown disse...

Bom, cada vez que leio algo novo desse maravilhoso escritor e amigo, me surpreendo mais...

Nesse novo estilo que está investindo, tens muito futuro. Esse foi o melhor poema seu que li até agora !
Tive a sensação de que o tempo estava passando depressa e no fim, só restou a morte.
Essa é uma das minhas filosofias de vida "aproveitar cada instante", talvez por esse motivo, eu tenha me identificado tanto com ele ...

Parabéns Marco , mais uma vez ... !

Luigi Ricciardi disse...

Quando a forma do poema contribui para o seu conteúdo é onde o poema chega no ponto máximo de sua qualidade. Essa ampulheta engolindo o ser humano e seu tempo é cruel, mas que, por esse poema, ela engula essa crítica, ó mordaz!

Parabéns, sr. Hruschka, esse, entre tantos bons poemas, é o seu melhor!

Rogers Silva disse...

mto bonito seu poema sobre o tempo. parabéns.

ah, bem-vindo ao meu blog. espero continuar com essa interação. vi bastantes coisas no seu blog de que gostei - seus livros e filmes favoritos etc.

abraçoss

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Maringá, Paraná, Brazil
Marco Hruschka é natural de Ivaiporã-PR, nascido em 26 de agosto de 1986. Morou toda a sua vida no norte do Paraná: passou a infância em Londrina e desde os 13 anos mora em Maringá. Sempre se interessou em escrever redações na época de colégio, mas descobriu que poderia ser escritor apenas com 21 anos. Influenciado por professores na faculdade – cursou Letras na Universidade Estadual de Maringá – começou escrevendo sonetos decassílabos heroicos, depois versos livres, contos, pensamentos e atualmente dedica-se a um novo projeto: contos eróticos. Seu primeiro poema publicado em livro (Antologia de poetas brasileiros contemporâneos – vol. 49) foi em 2008 e se chama “Carma”. De lá para cá já, entre poemas e contos, já publicou mais de 50, não apenas pela CBJE, mas também em outras antologias. Em 2010 publicou seu primeiro livro solo: “Tentação” (poemas – Editora Scortecci). Em 2014, publicou “No que você está pensando?” (Multifoco Editora), livro de pensamentos e reflexões escrito primordialmente no facebook. É professor de língua francesa e pesquisador literário.

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