Monólogo Mundo Moderno - Chico Anysio
Mundo moderno, marco malévolo, mesclado mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutáias, majestoso manicômio.
Meu monólogo, mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio maior, maldade mundial.
Madrugada… matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna, monta matumbo malhado, munido machado, martelo… mochila mucha, margeia mata maior.
Manhãzinha move moinho moendo macaxeira, mandioca.
Meio dia mata marreco… manjar melhorzinho.
Meia noite mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua mas monocórdia, mesmice.
Muitos migram mascilentos, maltrapilhos, morarão modestamente: malocas metropolitanas; mocambos miseráveis, menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo.
Metade morre… mundo maligno, misturando mendigos maltratados… menores metralhados, militares mandões, meretrizes marafonas, mocinhas, mera meninas… mariposas, mortificando-se moralmente, modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas… mundo medíocre.
Milionários montam mansões magníficas, melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, Mercedes, motorista, mãos magnatas manobrando milhões mas maioria morre minguando.
Moradia meia-água, menos, marquise.
Mundo maluco, máquina mortífera, mundo moderno melhore, melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos… maldito mundo moderno, mundinho merda.
Efêmero deleite
Eu e elas
Meu amigo e professor de francês, Fábio, ao ler o meu texto "Efêmero Deleite", teve a idéia de reescrevê-lo com um pouco mais de ousadia, deixando de lado a subjetividade, priorizando a realidade, a vida como ela é. Na minha opinião, um ótimo texto para retratar a atualidade, em que a maioria das mulheres se mostra fútil, em que o amor não tem vez, em que o que conta é o que você tem, e não o que realmente é. Um brinde às avessas às máscaras de cada um! Boa leitura.
Fábio Lucas Pierini
(para Marco Hruschka)
Vou e volto, levo e trago. Quem me vê em meu traje impecável e minha postura rígida não faz idéia do que escondo por trás deste sorriso hipócrita. Fantasio com todas elas, com cada uma delas ou com uma que seja todas elas, transando loucamente comigo. Sonho com sua pele de pêssego tratada com produtos caros, seus cabelos cuidados por mãos de profissionais conhecidos na cidade, seus corpos esculpidos nas academias mais badaladas e com o dia em que eu me sentarei com elas, fumarei com elas, beijarei suas bocas vermelhas e bêbadas e, após uma noite de muito sexo num motel de luxo, sairei de suas vidas como se nunca tivesse entrado, levando comigo talvez as marcas de um esmalte escarlate nas costas.
Mas eu nunca entro. Talvez porque não lhes valha a pena deixar entrar um homem que não queria voltar. Elas são vaidosas, querem nos ter a seus pés, pedindo, chorando, implorando. Eu só queria dar uma entradinha nesse mundinho apertado, limpinho e cheirosinho delas. Olhar bem de perto e gravar na memória o que faz delas tão elas mesmas.
Por volta das 6 da manhã a noite acaba e eu tenho de aguentar os últimos bacanas que ainda choram. Vou puxando a mesa e digo que passem no caixa. Babacas. Me emprestem essas porras dessas caminhonetes que eu mudo tudo isso. Chego aqui vestido feito um caubói pagando Amarula para aquelas me pagarem um pau e levo para dar uma volta. Conto umas piadas para fazê-las rir e vou embicando para o motel. Se disserem que não, trago de volta e espero outras. A noite é curta, mas tem sempre alguém que não se importa
Mas ninguém me empresta uma caminhonete e tenho de voltar para casa no meu semi-novo. Contemplo-o. Meu único amigo. Quantas vezes não fiquei aí dentro lamentando minha má sorte, minha condição de escravo desse bando de bundas brancas? Quando comprei disseram: “Nessa cor é ruim passar para a frente”. Respondi: “Se eu comprasse um carro pensando na venda, seria revendedor”. As coisas às vezes se parecem com seus donos. Sou vermelho por dentro, e ele, por fora.
Até que ele chama a atenção. Toda semana dou um brilho. Acho que elas até olham para ele, mas quando veem que aqui dentro está um falido, ou melhor, aquele falido do barzinho, devem ficar com nojo. Será que elas se imaginam fazendo sexo comigo? Nem que fosse para deixar os bacanas com raiva, dizendo assim: “Saí com o garçom sim, e ele tem o pinto maior que o seu”. Mas elas não fazem isso. Dizem que fazem, mas não fazem, senão eu já teria descoberto o segredo de todas elas.
Passo pelo museu e vejo que já está aberto. Olho o relógio, verifico meu sono... Por que não? Entro lá como se entrasse numa igreja, com medo de encostar nessas coisas que devem ter um valor inestimável. Passo pelas galerias e não consigo entender quase nada. Mas muitas das pinturas, esculturas, gravuras, estátuas, tapeçarias e demais objetos têm algo em comum: homens e mulheres se dando bem uns com os outros.
Um objeto vermelho chama minha atenção. Um vaso ilustrando um homem e uma mulher usando trajes orientais, olhinhos puxados. O cara oferece uma flor para a moça ao mesmo tempo que beija a mão dela. E ela retribui, toda encantada. De repente, uma tristeza me invade. Uma angústia. E pela primeira vez em anos, eu consigo chorar. Reconheço. Eu queria amor. Mas elas não querem me dar. Tudo o que elas querem é uma Silverado, lençois de seda e um cartão de crédito. Se eu tivesse isso... Quem sabe... Quem sabe depois da primeira noite, elas... Não! Elas não me amam. Não posso amá-las.
Saio de lá chorando ainda, pensando na dor de estar sempre só. De elas darem aos bacanas o que pertence aos homens de verdade. Porque um bacana faz para elas tudo o que elas querem. E um homem de verdade... Um homem de verdade ama. Um homem de verdade nada mais tem a dar para sua mulher senão amor. Mas elas não querem amor. Talvez porque... Não sejam mulheres de verdade.
Entro no meu semi-novo vermelho e saio. Chego a uma esquina sem semáforo e vejo alguém tentando atravessar. Tem faixa de pedestre e eu paro. Sorrio simpaticamente para convencer o transeunte de que não passarei por cima dele enquanto ele atravessa. Mas não é ele, é ela. E ela agradece, com um sorriso tímido e baixa a cabeça enquanto passa diante de mim. Vejo que seus olhos ficam inquietos nas órbitas querendo saber se eu a contemplo. Claro que sim. Pele de pêssego, cabelos cuidados, corpo esculpido. Assim que ela chega ao outro lado da calçada, recolhe os cabelos, gira um pouco o pescocinho tatuado e discretamente aponta os olhos na minha direção, cravando em nós um lindo sorriso de satisfação.
Maringá, 14 de maio de 2009.
Don Juan
No galanteio elegante da madrugada
Sai o jovem filho do Amor a conquistar
E a seduzir a natureza; perito em artimanha,
Flerta com o vento, sorri para o luar,
Aura mística, o limite é o topo da montanha.
Segue seu destino todo soberano no olhar,
Porte sublimemente encantador,
Percorre as trilhas em ribeirão,
Acenando às relvas reluzentes em verdor,
E acariciando a semi-escuridão com lábios de varão.
Encontra o deleite quando menos se esperava,
A Noite, toda personificada em bela donna,
Coberta e ornada nos magníficos véus crepusculares,
Por isso mesmo lírica e reluzentemente barona,
Envolve-o em sua fantasia de rituais salutares.
Unem-se numa junção oniricamente comedida
Ambos a desenvolver um jogo de carícias variadas
Toques, sussurros, o casal já paira em meio à brisa,
Seres distintos, mas pelos quereres almas amadas,
Saboreiam-se tão furtivamente que não mais se divisa.
Após o gozo infinito e desmedido,
Ela se esvai na aurora que precede o beijo derradeiro
E ele, o galã viril, retorna a casa revigorado,
Para aguardar o turno de mais um dia rotineiro
E então, ao raiar da lua, renascer para amar e ser amado.
Marco Hruschka
Soneto de saudade
E no cálido botão rosáceo, intumescido de prazer,
Habitam os meus desejos de cintilante devaneio,
O toque macio e a pele alva me fazem enlouquecer.
Dá-me, ó musa, alimenta-me com teu seio
Como uma mãe que sacia o filho faminto,
Mas saibas que a minha fome é de anseio,
Quero perecer em ti, curvas em labirinto.
Ao colocá-lo em meus lábios, como outrora e infinitamente,
Umedeço-o com a seiva da paixão e tu padeces,
No fechar dos olhos, desfrutas do deleite, imensamente...
No profundo suspirar, deixa-te levar pelo que queres,
Cederás sempre ao nosso amor, paixão incandescente,
E alhures, nossos lêmures se unirão num banquete de prazeres.
Soneto de fidelidade / Soneto de separação / Soneto do amor total
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Ternura - Vinícius de Moraes
Posto agora um de meus poemas favoritos de Vinícius de Moraes, Ternura. A nossa literatura e música atuais devem muito a esse grande compositor, músico e poeta. Um brinde ao conquistador!
Ternura
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.
Texto extraído da antologia "Vinicius de Moraes - Poesia completa e prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 259.
Vers Dieu
No levíssimo estar de alma,
Toda contorcida pelo espasmo cor de sonho,
Ela, riacho, pêndulo, mistério, miragem, desejo,
Se despede de si por um instante atemporal,
Momento este em que o ar é poesia,
Em sua mente, o nada em déjà-vu, pois já flutua
Um vazio suavemente carregado de futuro,
Sobe, se emana, se aflora, se espera,
As estrelas e seus astros observam-na passar levíssima
Os lábios exclamando o deleite subjetivo
E o respectivo corpo se retransfigurando
Em sua androgeneidade personal, mulher-anjo,
Respectivamente simples como as trevas e a luz;
E se Deus existe, estica a mão para reconhecê-la
E ao tocar-lhe a pele, ela já-se-é novamente,
E regride transgredindo...
Agora em seu leito de início, abre os olhos,
Seu gêmeo a sorrir-lhe, também voluptuoso,
Aguardando o seu completo retorno
Desta viagem brevemente eterna em direção a Deus.
Foto: Imagem de Lúcifer na catedral Saint-Paul de Liège, Bélgica.
O que um homem quer? Fabrício Carpinejar
O que uma mulher quer? Fabrício Carpinejar
Quando a gente ama - Oswaldo Montenegro
Uma letra simples, mas que reflete claramente a nossa alma...
Composição: Marcelo Barbosa Barreti / Nil Bernardes / Fábio Caetano
Quem vai dizer ao coração,
Que a paixão não é loucura
Mesmo que pareça
Insano acreditar
Me apaixonei por um olhar
Por um gesto de ternura
Mesmo sem palavra
Alguma pra falar
Meu amor, a vida passa num instante
E um instante é muito pouco pra sonhar
Quando a gente ama,
Simplesmente ama
É impossível explicar
Quando a gente ama
Simplesmente ama!
Marco Hruschka no Facebook
Quem sou eu?
- Marco Hruschka
- Maringá, Paraná, Brazil
- Marco Hruschka é natural de Ivaiporã-PR, nascido em 26 de agosto de 1986. Morou toda a sua vida no norte do Paraná: passou a infância em Londrina e desde os 13 anos mora em Maringá. Sempre se interessou em escrever redações na época de colégio, mas descobriu que poderia ser escritor apenas com 21 anos. Influenciado por professores na faculdade – cursou Letras na Universidade Estadual de Maringá – começou escrevendo sonetos decassílabos heroicos, depois versos livres, contos, pensamentos e atualmente dedica-se a um novo projeto: contos eróticos. Seu primeiro poema publicado em livro (Antologia de poetas brasileiros contemporâneos – vol. 49) foi em 2008 e se chama “Carma”. De lá para cá já, entre poemas e contos, já publicou mais de 50, não apenas pela CBJE, mas também em outras antologias. Em 2010 publicou seu primeiro livro solo: “Tentação” (poemas – Editora Scortecci). Em 2014, publicou “No que você está pensando?” (Multifoco Editora), livro de pensamentos e reflexões escrito primordialmente no facebook. É professor de língua francesa e pesquisador literário.
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